segunda-feira, 17 de junho de 2013

Modelos neoclássicos keynesianos de demanda por moeda

Disciplina: Economia Monetária
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Resumo do Capitulo 04 – Modelos neoclássicos keynesianos de demanda por moeda

            A demanda transacional por moeda depende da renda dos agentes econômicos – como exposto por J. M. Keynes – mas também da taxa de juros corrente. Este pensamento é a base da crítica feita pelo economista James Tobin (1918-2002) ao modelo keynesiano. Representante dos teóricos da “síntese neoclássica”, Tobin analisa a demanda especulativa por moeda (modelo de composição de carteiras) e também a demanda transacional (“abordagem Tobin/Baumol”), com o claro intuito de redefinir os motivos que levam os agentes econômicos a demandarem moeda.
Dos motivos elencados por Keynes de demanda por moeda, a demanda transacional é a que se refere ao uso da moeda como meio de pagamento, enquanto a demanda especulativa assume que a moeda também pode ser acumulada como riqueza (reserva de valor), como outros tantos ativos. Todavia, a moeda não rende ao seu possuidor nenhum retorno tangível. Fator que Keynes deu menor importância, ao considerar a moeda como instrumento de segurança a quem a possuísse. Isto levou Tobin a considerar falho o raciocínio do autor.
Para Keynes, há uma relação positiva entre o preço de mercado dos títulos financeiros e a taxa de juros. O que significa dizer que a demanda por títulos aumentará de acordo com a expectativa do investidor de elevação da taxa de juros, proporcionando-lhe maior rendimento. No entanto, consideram-se títulos como promessas de recebimento futuro, devendo-se levar em conta o valor desse ativo no decorrer do tempo. Tobin, por outro lado, mostrará que “quando a taxa de juros sobe, o valor de mercado do papel, seu preço de mercado, cai”; isto, com base em dois elementos: a taxa de juros a ser paga no período em que possui os títulos e o preço de revenda deste papel ao final do período. Dessa forma, quanto maior a taxa de juros, menor a necessidade de capital investido para a obtenção de um determinado valor ao final do período.
A explicação da demanda especulativa da moeda, realizada por Tobin, aponta que os investidores optam por reter moeda para comprar títulos a preços menores, sempre que a taxa de juros se elevarem. Daí, o autor formula o seu modelo de composição da carteira de ativos, que desconsidera a possibilidade de investidores se especializarem exclusivamente em apenas um dos ativos (moeda ou títulos), como transparecia o modelo keynesiano. Para uma economia que envolva riscos, é mais provável que os investidores diversifiquem sua carteira entre títulos e moedas.
O modelo de composição de carteira teve como suposto básico a existência de dois tipos de ativos disponíveis ao investidor: a moeda e os títulos, facultando-lhe uma infinidade de combinações; o investimento em títulos envolve riscos, mas algum retorno; já a moeda, nenhum; os indivíduos geram expectativas probabilísticas quanto ao rendimento de seus ativos ao fim do período, e assim buscarão otimizar uma função utilidade que combine sua “cesta” de investimentos com os maiores rendimentos e os menores riscos; estas combinações são denominadas curvas de oportunidade, correspondentes às possibilidades de cada um, que tangenciam as curvas de indiferença (preferências) no ponto de maximização dos interesses dos agentes econômicos.
Para explicar a demanda transacional da moeda, Tobin, juntamente com Baumol, alegou que tal demanda não era apenas uma função da renda, como fizera Keynes, mas também função da taxa de juros corrente. Basicamente, Tobin e Baumol ponderaram que o indivíduo ao buscar maximizar sua função utilidade, num dado período de tempo, deixará apenas uma parte de sua renda em suas mãos, para transação, preferindo por aplicar o restante em títulos (auferindo renda), uma vez que ele poderá vendê-los posteriormente para a efetuação de pagamentos correntes.
Os autores, especialmente Baumol, consideraram os fatores a evitar que todo o dinheiro fosse aplicado em títulos para serem posteriormente vendidos conforme a necessidade de dinheiro. Um indivíduo maximizador de sua utilidade manterá saldos monetários com o intuito de evadir-se dos custos oriundos do processo de compra e venda dos títulos e custos de oportunidade daí decorrentes. Assim, o quantum de moeda retida será uma função da receita dos títulos com o custo das aplicações nos mesmos. O indivíduo se comportará de forma a manter em mãos apenas o essencial para o cumprimento de suas obrigações, e, ao mesmo tempo buscará auferir ganhos resultantes de uma aplicação financeira. Isto prova que quanto maior a taxa de juros, menor a quantidade de dinheiro retida pelos agentes. E assim, fica posto que a demanda transacional por moeda seja também sensível às alterações da taxa de juros.
A teoria keynesiana de demanda por moeda também foi reformulada por autores como Stiglitz e Weiss, relacionando-a com a oferta e demanda por crédito, denominada teoria do racionamento de crédito. Partiram de um questionamento básico: Porque o crédito não funciona como um mercado competitivo comum? Simplesmente porque o mercado financeiro proporciona a assimetria de informação.
Um participante desse mercado não possui informações perfeitas a respeito de outro participante, o que o impossibilita de tomar decisões com maior grau de certeza. Esta situação afeta o comportamento individual de cada participante, gerando o que se chama de “risco moral”, ou mesmo, aumenta o grau de risco de um conjunto de tomadores de empréstimo (seleção adversa). Assim, o crédito pode ser reduzido ainda que haja pessoas dispostas a pagar o preço de mercado (juros) pelo mesmo.
Quanto à “seleção adversa”, compreende-se um funcionamento imperfeito do mercado de crédito em uma operação financeira, que encarece o preço dos empréstimos, antes do negócio ser realizado, pelo fato das agências financiadoras não poderem distinguir entre o bom e o mau pagador. Considerando-se que os bons pagadores normalmente optam por não pagarem juros mais altos, é de se esperar que os maus pagadores fatalmente sejam selecionados. Já o “risco moral”, é um problema que ocorre após a realização da transação. Tomadores de empréstimos optam por investirem em negócios mais arriscados, de maior retorno, a taxas de juros maiores, aumentando as possibilidades do financiamento não ser pago. À medida que os juros aumentarem, somente esse tipo de demandante irá executar seus projetos. Em ambos os casos, tem-se forçado o racionamento do crédito por parte dos emprestadores.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Planejamento Econômico na Bahia


Disciplina: Evolução da Economia Baiana
Prof. Antonio Andrade Leal
05 de outubro de 2010

QUESTÃO: TOMANDO O CONCEITO DE PLANEJAMENTO COMO INSTRUMENTO DE DESENVOLVIMENTO, ANALISE SUA HISTÓRIA A NÍVEL NACIONAL, REGIONAL E EM NÍVEL DE BAHIA, ASSIM COMO SUAS IMPLICAÇÕES PRÁTICAS NAS MUDANÇAS OPERADAS NO SEIO DA ECONOMIA BAIANA.

   O Estado é uma importante peça de funcionamento de uma economia moderna. A sua função no ambiente econômico, todavia, suscita muita discussão dentre as diversas escolas do pensamento econômico. A Escola Liberal, por exemplo, formada a partir das ideias do escocês Adam Smith, sugere a não intervenção estatal nas decisões de mercado. Esta, que constitui a primeira organização formal e bem estruturada da Ciência Econômica, era uma reação às práticas absolutistas do período mercantil, em que a nação era privilegiada em desfavor dos proprietários individuais. Os liberais defendiam, ao contrário, a livre-iniciativa individual.
   As proposições da Escola Liberal, no entanto, sugeriam uma harmonia econômica promovida pelo mercado, que não correspondia à realidade. Isto levou a muitos teóricos e, em especial, a Karl Marx, pensador alemão do século XIX, a denunciar o papel do Estado como mantenedor de uma ordem social injusta. Propunha-se a tomada do Estado e a socialização dos meios de produção. Pode-se registrar esta tentativa na experiência da União Soviética das Repúblicas Socialistas (URSS), cuja qual o estado detinha plenos poderes de planejar a sua economia. Não de outra maneira, esta prática costuma ser atribuída a ideias ditas socialistas.
   Embora as ideias socialistas não tenham sido aderidas por grande parcela do mundo capitalista, o ano de 1929 acusou, de forma prática e evidente, as limitações das teorias liberais e do mercado auto-regulado: quebra da bolsa de valores de New York, seguida da depressão econômica dos anos 1930. Diante deste quadro, a resposta teórica que obteve maior expressividade foi de ordem heterodoxa. O inglês John Maynard Keynes propôs a intervenção do estado em uma economia de mercado. Isto é, o estado deveria atuar como indutor do crescimento econômico, através do planejamento.
   Assim, ainda que outras correntes do pensamento econômico tenham surgido e discordado dessas ideias (p. ex.: o neoliberalismo), a noção de planejamento estatal, desde então, jamais deixou de fazer parte do mundo capitalista.
   No Brasil não foi diferente.
   Desde seus primeiros séculos de formação do território nacional até os anos 30 do século XX, a economia do país caracterizou-se pela ocorrência de ciclos econômicos em regiões diferentes do país, sem que houvesse nenhuma articulação entre um e outro. Em linhas gerais, tivemos o ciclo da cana-de-açúcar, da borracha, do ouro, do café, que foram expressivos para a economia brasileira.
   Todavia, quando afetado pela crise dos anos 1930 e diante da emergência de uma indústria ainda infante no país, aportado pelas novas ideias keynesianas, o governo brasileiro começou a atuar de forma mais nítida e significativa em sua economia. De suas ações, destaca-se a política de "substituição de importações", marcante do pensamento e política econômica brasileira.
   Tinha-se por objetivo dotar o país de uma indústria forte, capaz de produzir bens de capital e bens duráveis, tornando sua economia robusta e menos dependente das variações externas. São exemplos de planos econômicos brasileiros o SALTE, o Plano de Metas, o PAEG, os PNDs, dentre outros.
   Dessa forma, o Brasil logrou obter sua condição de país industrializado. Fenômeno que ocorreu, sobretudo, na Região Sudeste do país, mais particularmente, no estado de São Paulo. As políticas de industrialização do país foram, portanto, concentradoras.
   Tal situação condicionou o subdesenvolvimento da Região Nordeste, aliada a fatores climáticos (grande secas), culturais (coronelismo) e econômicos (desvantagens competitivas). O governo deveria, pois, elaborar propostas que revertessem, ou diminuíssem, esse quadro. Foram montadas comissões, presididas pela CEPAL, com o intuito de criar mecanismos de apoio ao desenvolvimento da região. Salienta-se a criação de instituições como o Banco do Nordeste e, em especial, a SUDENE que tinham como meta canalizar os esforços do Estado neste sentido.
   Era consenso que frente à industrialização e desenvolvimento do Sudeste, seria inviável o crescimento do Nordeste sem a atuação de órgãos interventores. Isto leva a questionar o intrigante caso do estado da Bahia. O Estado baiano reuniu em finais do século XIX uma indústria viçosa, ainda que nascente. Sua  história econômica acompanha à do país, qual seja de ciclos, do qual se destaca o ciclo do cacau. Mas, ainda que tenha reunidas estas condições, não logrou se desenvolver.
   Economistas como Dias Tavares, Pinto de Aguiar, Rômulo de Almeida, dentre outros, se prestaram a estudar o fenômeno, conhecido na literatura por "enigma baiano". Seus estudos tinham por móvel identificar as causas (que passam por ingerência do empresariado baiano, políticas como as cambiais, que beneficiavam o Sudeste etc.) e, principalmente, as possíveis soluções, que deveriam passar pelo processo de planejamento.
   A princípio o Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN) propunha para a Região e, por conseguinte, para a Bahia, um modelo parecido com o do Brasil, quando o Sudeste foi beneficiado. Isto é, executar uma política de substituição de importações, transformando a matriz produtiva, para produzir bens finais, independente do Sul do país.
   Porém, na Bahia o modelo adotado foi o sugerido pelo PLANDEB, que teve por meta tornar a indústria baiana em produtora de bens intermediários para serem comercializados com o Sul do país.
   A Bahia adotou um modelo que pode ser chamado de "desconcentração concentradora". Isto é, o estado pôde industrializar-se, alterando significativamente a composição de seu produto interno bruto, todavia, apenas em dois segmentos principais: a petroquímica e a metalúrgica.
  Do processo de planejamento econômico na Bahia surgiram a refinaria Landulfo Alves, o Polo Petroquímico de Camaçari, o Centro Industrial de Aratu e alguns distritos industriais no interior do estado. Daí se percebe a importante presença desta peça no crescimento econômico baiano.
   Atualmente, o ambiente é caracterizado pela inexistência de políticas bem definidas de Estado, deixando de atuar a peça do planejamento, e dando ensejo ao fenômeno da "guerra fiscal". Deste cenário denota-se, mais uma vez, que o Estado, na Bahia, é um dos grandes  responsáveis pelo processo de industrialização, ainda que por meio dos incentivos fiscais a influenciar na decisão de investimento do empresário capitalista.